Tomb Raider é uma série de jogos cult, pioneira do gênero de tiro em terceira pessoa, que teve um impacto significativo no desenvolvimento dessa direção. Sua personagem principal imutável, Lara Croft, permanece um dos símbolos mais reconhecíveis da cultura dos videogames até hoje. A dona de um busto empinado e um par de pistolas com munição infinita conseguiu se tornar um símbolo sexual por mais de uma geração, além de entrar para o Guinness Book com o título de "heroína de videogame mais famosa entre as pessoas".
O Tomb Raider original de 1996, da Core Design, tornou-se um verdadeiro fenômeno na indústria de jogos. Um jogo de ação e aventura em que, pela primeira vez, o personagem central não era um macho musculoso, mas uma garota de aparência frágil com curvas sensuais, que movia blocos de pedra com facilidade e era capaz de envergonhar qualquer cara corpulento com um rifle, tornou-se uma verdadeira sensação, especialmente entre o segmento masculino de jogadores. Todos os outros fãs de entretenimento interativo da época tinham um pôster de Lara — às vezes até dois.
As expansões subsequentes (Tomb Raider: Unfinished Business, Tomb Raider 2: The Golden Mask, Tomb Raider 3: The Lost Artifact) e sequências (Tomb Raider 2, Tomb Raider 3: As Aventuras de Lara Croft, Tomb Raider: A Última Revelação, Tomb Raider: Crônicas) apenas reforçaram o sucesso do original. Os fãs da série adoravam atirar em morcegos, resolver quebra-cabeças antigos, lutar contra predadores perigosos e vagar pela própria mansão, descobrindo seus segredos e, ocasionalmente, trancando o mordomo "imortal" no congelador.
Tomb Raider: O Anjo das Trevas, lançado em 2003, não alcançou a glória de seus antecessores e, após algumas adaptações cinematográficas não tão bem-sucedidas, a série foi esquecida.
Em 2006, a série passou por um renascimento. A franquia foi entregue à Crystal Dynamics, que lançou o bastante decente Tomb Raider: Legends. Lara, agora com mais polígonos, continuava pulando, saltando e derrotando habilmente soldados e criaturas sobrenaturais com suas pistolas e outros dispositivos característicos. O remake em HD do jogo original — Tomb Raider: Anniversary — e a sequência Tomb Raider: Underworld obtiveram algum sucesso, mas também deixaram claro para seus criadores que a série estava mais uma vez em um beco sem saída. Tendo como pano de fundo as aventuras cinematográficas sem precedentes de Nathan Drake, Lara não tinha a menor chance. Um reboot da série era apenas uma questão de tempo.
Tomb Raider, que é o foco da análise de hoje, foi a tentativa do estúdio de repensar a franquia, dar-lhe uma nova vida e, por assim dizer, virá-la de cabeça para baixo. A principal reimaginação dizia respeito à própria Lara: a imagem da femme fatale e corajosa caçadora de tesouros, cujo poder de fogo poderia parar até mesmo um T-Rex, foi descartada. Em vez disso, nos foi oferecido um conceito novo e inovador para a personagem principal: frágil, feminina e o mais vulnerável possível.
No entanto, isso não significa que nunca mais veremos a Lara Croft que todos conhecem e lembram. O novo Tomb Raider é uma tentativa de contar a história de como a famosa exploradora de tumbas se tornou uma pessoa forte, determinada e obstinada — uma história de como uma criança inexperiente se transformou na mesma Lara que conquistou milhões de corações em 1996. E devo dizer que os desenvolvedores acertaram em cheio.
"Não somos excepcionais, mas o que fazemos é. Finalmente parti em busca de mim mesma e da aventura. Mas a aventura me encontrou primeiro."
O slogan de Tomb Raider é bem escolhido e reflete totalmente a essência do jogo. Tudo começa com o navio que transportava a Srta. Croft — ainda uma arqueóloga jovem e inexperiente — e sua equipe navegando para o Triângulo do Dragão na esperança de descobrir o segredo da mítica Imperatriz Himiko, apenas para naufragar. Os desenvolvedores deixam isso claro imediatamente: desta vez, não haverá esmolas ou sorte infinita que a heroína dos jogos anteriores teve em abundância.
Após chegar à costa, Lara vê os outros tripulantes que conseguiram sobreviver. Por um momento, parece que um reality show no estilo "Lost" está prestes a começar, mas não: um agressor desconhecido nocauteia a garota, e ela perde a consciência.
Quando Lara acorda, ela se encontra pendurada de cabeça para baixo em uma caverna misteriosa cheia de velas acesas e coberta de inscrições rituais. E é aqui que as coisas ficam realmente interessantes. A Crystal Dynamics afirmou repetidamente que o foco do novo jogo não seria a ação, mas o drama, as emoções e experiências da personagem principal.
Lara enfrenta todos os tipos de dificuldades em seu caminho para a liberdade: ela cai, se machuca, se queima, é atacada e até mesmo empala o próprio flanco com uma vara enferrujada antes de finalmente escapar do lugar amaldiçoado e acabar em um penhasco, onde é recebida por uma visão majestosa, porém aterrorizante: dezenas de naufrágios e destroços levados para a praia pelas ondas implacáveis. Lara, respirando pesadamente, se recupera lentamente do choque. No canto da tela, o título "Tomb Raider" aparece gradualmente. E percebemos que todo esse tempo assistimos a uma demonstração do que a pobre garota terá que enfrentar em seguida.
Junto com Lara, os próprios jogadores também terão que se adaptar, especialmente aqueles acostumados a correr por aí com duas pistolas disparando e abatendo inimigos em todos os jogos anteriores. Cada ferimento que Lara recebe é acompanhado por um gemido convincente, e cada queda é seguida por uma leve claudicação. Os desenvolvedores fizeram todo o possível para que o jogador sentisse a dor de Lara e entendesse o quão difíceis esses testes são para ela. O resultado é impressionante: à sua frente não está um exterminador com busto tamanho 36, mas uma pessoa real — sensível e vulnerável.
Olhando para Lara ferida e trêmula, que tenta acender uma fogueira com um único fósforo, você quer abraçá-la, confortá-la e nunca deixá-la sozinha. A Crystal Dynamics conseguiu criar uma imagem tão feminina que lembra as palavras da personagem de Leslie Nielsen no filme "Corra que a Polícia Vem Aí": "Por essa mulher, você quer se ajoelhar e agradecer a Deus por ser um homem.
Mas Lara não teria o direito de ostentar o sobrenome Croft se a determinação não estivesse em seu sangue — um fato que os membros sobreviventes da tripulação a lembram repetidamente, incentivando-a a seguir em frente. E Lara avança. Lá está ela, abrindo caminho por entre matagais densos, recuperando sua primeira arma de um cadáver e, com medo nos olhos, esfolando sua primeira vítima. Ao longo do jogo, a testemunhamos superando um medo após o outro. Lara muda — suas ações se tornam mais duras, seu olhar, mais confiante. E somente sua primeira vítima, cometida sob ameaça de morte, deixa claro que ainda estamos diante da mesma Lara Croft, só que mais jovem e menos experiente.
No novo Tomb Raider, tudo gira em torno da atmosfera — é praticamente um RPG com amplas oportunidades para interpretação, e é imperdoável terminá-lo rapidamente em poucos dias. Para apreciá-lo completamente, você precisa senti-lo, vê-lo e entender a ideia por trás do reboot da série. Se você está procurando uma continuação de Tomb Raider: Underworld, pode passar por este com segurança.
Nas primeiras prévias de Tomb Raider, os desenvolvedores prometeram aos jogadores uma ilha enorme com espaços abertos para explorar. Eles cumpriram parcialmente essa promessa. Na verdade, o jogo começa de verdade quando o jogador chega ao seu primeiro acampamento, montado sob um penhasco íngreme. O acampamento serve não apenas como um lugar para descansar depois de todas as aventuras, mas também como uma espécie de estação onde você pode aprimorar suas armas e alocar habilidades. Sim, o jogo agora apresenta uma árvore de habilidades completa com três ramificações: "Sobrevivente", "Caçador" e "Brigadeiro".
Habilidades na categoria "Sobrevivente" ajudam Lara a sentir melhor sua presa e permitem que ela colete munição de inimigos e animais, além de encontrar mais peças em caixas. Habilidades de "Caçadora" permitem que ela carregue mais munição e ganhe mais experiência com inimigos derrotados. Aprimoramentos de "Brigadeiro" ajudam Lara a se esquivar de ataques inimigos com mais eficácia e a causar dano adicional com o machado de escalada.
Falando em equipamento, como mencionado acima, ele pode ser amplamente modificado. Peças para ele estão espalhadas por toda a ilha em abundância. Além disso, a vantagem "Colecionador de Ossos" permite que você obtenha peças de aprimoramento até mesmo dos corpos de inimigos derrotados. Para o arco, os aprimoramentos aumentam a cadência de tiro e o dano. Para armas de fogo, eles aumentam o tamanho do carregador e reduzem o recuo. Alguns aprimoramentos têm vários níveis.
Você poderá usar todas essas coisas boas naquele vasto mundo. Os desenvolvedores realmente fizeram um ótimo trabalho, criando uma grande ilha — Yamatai — com uma dúzia de locais, cada um cuidadosamente criado e povoado com todos os tipos de vida selvagem, caça e outras criaturas que você precisará caçar. A maioria dos animais precisa ser abordada com cuidado, pois se você assustar uma presa pequena, como um coelho, acertá-la com um arco se torna extremamente difícil.
E o que seria de Tomb Raider sem quebra-cabeças e artefatos? Lara terá que escalar saliências, escalar penhascos e atravessar rios subterrâneos em grandes quantidades para chegar aos cobiçados esconderijos e às primeiras tumbas de sua vida. Para manter os jogadores engajados, os desenvolvedores espalharam pelo mapa não apenas documentos e notas que esclarecem o enredo do jogo, mas também minidesafios exclusivos para cada área. Por exemplo, na floresta, você precisará destruir dez totens, enquanto na vila da montanha, você terá que acender fogueiras em dez estátuas e roubar ovos de cinco ninhos de pássaros.
Cada local ostenta um design habilidoso, porém intrincado, e muitas vezes é difícil encontrar os itens necessários no ambiente. Para isso, a Crystal Dynamics deu à Srta. Croft o chamado "instinto de sobrevivência" — uma espécie de análogo à "Visão de Águia" de Assassin's Creed, que destaca objetos importantes e ajuda a encontrar tesouros escondidos. Essa habilidade é, reconhecidamente, um tanto "trapaceira", mas também muito útil, pois sem ela, encontrar algo como um amuleto de osso entre os muitos galhos da floresta seria quase impossível.
A mecânica de jogo do jogo se assemelha mais a Batman: Arkham City. Os jogadores têm uma ilha à disposição, dividida em locais que podem ser percorridos a pé ou pelos acampamentos mencionados. É aqui que os desenvolvedores foram um pouco sorrateiros: as áreas são de fato abertas para exploração, e a linearidade é coisa do passado, mas ainda não se pode chamar de um mundo totalmente aberto. E embora você seja livre para se mover dentro de um local específico e retornar às áreas anteriores a qualquer momento, a liberdade prometida simplesmente não existe. E sejamos honestos: seria bobagem esperar algo como "GTA na selva" do novo Tomb Raider.
Os controles são feitos nas melhores tradições da série. A Crystal Dynamics preservou o dinamismo clássico (desculpem a tautologia) e adicionou uma câmera trêmula que acompanha o jogador tanto nas cutscenes quanto durante o jogo, aumentando a sensação de presença. Lara responde muito rapidamente a qualquer toque de botão e, se ela cair em um abismo, geralmente a culpa é do próprio jogador.
A propósito, lembram-se da famosa subida em estilo cambalhota da Lara com o elegante salto mortal? Podem esquecer com segurança. No novo jogo, Lara está focada exclusivamente na sobrevivência, não em seduzir perdizes e lobos. O abundante fan service, que era uma característica fundamental dos jogos anteriores, foi arquivado para tempos melhores. A nova Lara é uma lutadora — uma lutadora por sua vida, pronta para escalar montanhas nevadas, planar de paraquedas, mergulhar em cachoeiras e passar furtivamente por canos escaldantes, tudo para sobreviver. Bear Grylls aprovaria.
Muitos fãs da franquia estavam preocupados com os gráficos do jogo, especialmente com a aparência deles no PC. Felizmente, pouco antes do lançamento, a Crystal Dynamics anunciou que a versão para PC de Tomb Raider contaria com gráficos aprimorados e todas as tecnologias mais recentes, como tesselação e iluminação volumétrica. Eu também estava preocupado com o visual depois de ver as texturas borradas nos trailers de gameplay. No fim das contas, esses medos eram infundados.
Tomb Raider realmente oferece muitas configurações gráficas, e as configurações mais altas proporcionam uma imagem muito sólida, livre dos traços desagradáveis da atual geração de consoles. Claro, uma menção especial deve ser feita à tecnologia TressFX, recentemente introduzida pela AMD. Na prática, ela se mostrou o recurso que mais exige recursos do sistema. Para jogar confortavelmente e aproveitar o cabelo da heroína esvoaçando em todas as direções, você precisará de uma placa de vídeo com desempenho não inferior a uma Radeon HD 7850 ou GeForce GTX 660. Um processador potente e 8 GB de RAM também são recomendados.
Quanto ao design do projeto, é impossível não admirar o trabalho realizado: o jogo é repleto de momentos de suposta solidão com a natureza, quando Lara pisa em um penhasco íngreme com uma vista deslumbrante das rochas costeiras e ondas quebrando, ou vagueia pelas profundezas da floresta, cercada por animais selvagens e árvores altas com folhagem densa. Tudo isso, combinado com a natureza não linear dos locais, torna o jogo realmente interessante de explorar.
Os jogos anteriores da série, pelo menos a primeira geração, sofriam de certa repetitividade. Na nova geração de jogos, sempre que o jogador começava a ficar entediado, Lara recebia algum novo gadget projetado para diversificar a jogabilidade. Se não houvesse uma "wunderwaffe" mágica, o jogador se entretinha com cutscenes espetaculares e momentos QTE.
Infelizmente (ou talvez felizmente para alguns), o novo Tomb Raider herdou essa deficiência de seus antecessores. Mas o crédito é merecido: os desenvolvedores fizeram o possível para entreter o jogador com novas atividades, criando tarefas e guiando-o pela mão até a próxima tumba escondida. No entanto, seus esforços não foram suficientes. A segunda metade do jogo pressupõe que o jogador será atraído pela história ou, pelo menos, pela jogabilidade renovada. Depois de um tempo, você notará que todas as novidades acabaram e os desenvolvedores começaram a se repetir. Talvez o jogo esteja muito longo ou talvez a Crystal Dynamics simplesmente tenha ficado sem ideias para Yamatai.
Há também muitas pequenas falhas. Por exemplo, Lara sofre constantemente da "síndrome de Gordon Freeman", carregando um arco, uma aljava de flechas, uma pistola, um rifle de assalto e uma espingarda com um machado de escalada, mas apenas a arma selecionada pelo jogador é visível. E se você quiser criticar, pode apontar a firme recusa da Srta. Croft em aceitar roupas quentes de inimigos caídos.
Outra desvantagem é o próprio ambiente. Sim, nos foram dados locais realmente enormes, cheios de segredos, caminhos ocultos e atalhos, mas se você quiser, pode correr o jogo inteiro sem nunca encontrar um único segredo ou subir ao topo de um pagode para pegar uma máscara antiga. Em outras palavras, os desenvolvedores criaram vastos territórios, mas se esqueceram de dar ao jogador motivação para explorá-los, deixando isso inteiramente à sua curiosidade. Triste.
Para ser justo, essa deficiência é compensada no modo multijogador do jogo, onde você pode e deve usar a paisagem para armar armadilhas e ganhar vantagem sobre seus oponentes.
A localização russa do jogo merece uma menção especial. Como uma releitura da série, Tomb Raider apresenta uma heroína quase inteiramente nova, que a princípio é difícil de reconhecer como a aventureira que todos conhecemos. E uma nova heroína precisava de uma nova voz. Tomb Raider foi traduzido para alemão, francês, árabe, polonês e até japonês. Cada atriz que fez o teste para Lara recebeu atenção especial. Karl Stewart, diretor de desenvolvimento de Tomb Raider, esteve pessoalmente envolvido na seleção de pelo menos duas delas.
A versão russa não levanta grandes reclamações. O texto é traduzido com competência e sem erros. O que se destaca, no entanto, são as falas dos diferentes personagens, que são feitas em cores contrastantes e, às vezes, podem ser chocantes.
A dublagem também é bastante decente. No entanto, a Lara "russa" às vezes carece da emoção da atriz original, que às vezes solta gemidos que deixariam qualquer heroína hentai com inveja. Aparentemente, os localizadores decidiram ignorar esses gemidos e se concentraram apenas nas falas da garota. Muitas vezes, nossa atriz subestima: Onde uma voz assustada e hesitante é necessária, ouvimos uma tradução comum, como uma dublagem de cinema. Isso imediatamente nos lembra da famosa frase de Stanislavsky.
Tomb Raider não é novo. Não há nada aqui que já não tenhamos visto na série Uncharted. Tomb Raider é inconsistente em sua narrativa. No final, Tomb Raider é um pouco arrastado. No entanto, ao mesmo tempo, Tomb Raider é a quintessência de tudo de bom que apareceu no gênero de aventura nos últimos cinco anos. É incrível como um jogo que outrora inspirou a criação das aventuras de Nathan Drake agora tenta ser como as aventuras de Nathan Drake.
É sempre muito melhor elogiar um jogo do que criticá-lo. E este é exatamente um desses casos. O reboot da franquia foi um sucesso, a série ganhou nova vida e os jogadores de PC receberam um concorrente à altura de Uncharted.