Revisão da Temporada 7 de Black Mirror — Terror tecnológico com um cheiro de naftalina

Revisão da Temporada 7 de Black Mirror — Terror tecnológico com um cheiro de naftalina

Dmitry Pytakhin
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Black Mirror há muito detém o título de uma série especial. O conceito original era criar uma espécie de declaração social sobre questões sociais prementes nascidas da tecnologia — entregues da forma mais direta, dura e hiperbólica possível. Os espectadores adoraram a ousadia dos criadores, razão pela qual a segunda, terceira e todas as temporadas subsequentes apareceram rapidamente. Infelizmente, quanto mais avançava, mais difícil se tornava para os escritores. A originalidade das ideias e a frescura da perspectiva sofreram muito, fazendo com que Black Mirror perdesse gradualmente sua essência. A sétima temporada irrompeu no espaço midiático com fanfarra. Muitos críticos e espectadores estrangeiros a chamaram de um retorno triunfante. Nós também assistimos à nova temporada e estamos prontos para compartilhar nossas opiniões sobre cada um dos seis episódios.

Episódio 1 — Pessoas Comuns

O show começa com um episódio muito realista. Ou pelo menos parece assim à primeira vista. A esposa do protagonista é diagnosticada com um tumor cerebral maligno. Há uma solução, mas o tratamento é experimental. A personalidade da mulher será copiada para um servidor, e depois da cirurgia, carregada em um cérebro atualizado. Sem problemas se algumas partes de carne estiverem faltando — já existe um backup. O problema é que aparentemente não há armazenamento dentro do próprio cérebro. Tudo funciona via streaming, então a pobre mulher não pode viajar além das áreas de cobertura das torres de celular.

Naturalmente, problemas surgem com o tempo. A corporação que realizou a operação introduz preços em camadas. Se você não quiser pagar mais, terá que ouvir anúncios inescapáveis de uma voz humana. E você também vai dormir muito mais. Tudo isso leva a um resultado inevitável. O casal tem que se endividar apenas para sobreviver. Eventualmente, o dinheiro acaba completamente, então a história termina de forma bastante triste.

Este episódio destaca várias questões. Primeiro, combina ficção científica realista com total desconsideração pela lógica básica. Acreditar que tal tecnologia pode um dia existir? Claro, por que não. É tão fácil acreditar que uma empresa gostaria de prender financeiramente seus usuários, deixando-os sem escolha. No entanto, se você tem mais de 20 anos, certamente já ouviu falar das leis antitruste. Na realidade, tal tecnologia inevitavelmente atrairia a atenção do governo, que então imporia restrições para evitar que algo como este enredo de Black Mirror acontecesse.

Em segundo lugar, a previsibilidade geral da história. Quase logo no início, o protagonista acidentalmente vê um show online onde as pessoas fazem coisas chocantes por doações. Claro que o personagem fica disgustado, e claro que ele acaba participando de algo semelhante mais tarde. Este é um dispositivo narrativo tão antigo que é praticamente ultrapassado.

A atuação salva o dia. Há apenas dois personagens principais e ambos parecem compreensíveis e vivos. Assistir às tentativas intermináveis do marido para prolongar a vida da esposa é realmente difícil. Mesmo que você comece cético, é difícil não se emocionar no final. Este está longe de ser o melhor episódio da temporada, e a escrita é direta e não sofisticada, mas o objetivo principal é alcançado — o espectador se identifica com os personagens.

Episódio 2 — Bête Noire

Uma exploração interessante de um conceito da moda nas redes sociais estrangeiras — gaslighting. A premissa é simples. Marie, uma chef de confeitaria que inventa novos sabores para doces, recebe uma nova colega de trabalho — sua ex-colega de classe Verity. A heroína se sente desconfortável, apesar de não haver conflito entre elas. Logo, eventos estranhos começam a acontecer, e Marie percebe que se lembra de coisas que mais ninguém lembra.

Se você acha que não há lugar para tecnologia aqui, você está absolutamente certo. Os criadores não conseguiram apresentar uma explicação coerente para a mágica que envolve Marie, então eles enfiaram um super-mega-computador — direto da ficção científica dos anos 80. Verity acaba sendo uma gênio que inventou um dispositivo capaz de criar ramos inteiramente novos da realidade. Naturalmente, os servidores para essa máquina cabem perfeitamente no primeiro andar de uma mansão (uma pena que não em uma mochila).

A programadora gênio desperdiça seu talento em vingança contra os valentões da escola (como poderia ser diferente?), então esse poder quase divino é desperdiçado em rancores mesquinhos de uma nerd neurótica. É assim que as coisas acontecem.

Antes que as explicações comecem, a história é genuinamente intrigante. Há informações de que a Netflix lançou duas versões do episódio com alguns elementos diferentes. Cada espectador viu uma das duas variações, fazendo com que o dispositivo de enredo do roteiro se replicasse na vida real — gaslighting dentro de gaslighting. Legal e original, sem reclamações. Se ao menos a história em si fosse a mesma.

Quando Verity explica o que está acontecendo, você não pode deixar de se sentir frustrado. Não importa que alguém com sua inteligência não se apegaria a vinganças de escola. Mas até a derrota final do vilão parece, para dizer o mínimo, forçada. É mais ou menos assim que os entusiastas de computadores são imaginados por pessoas que não usam ou trabalham com computadores.

Um daqueles detalhes que variaram entre os espectadores

A impressão geral após assistir permanece confusa. Observar os eventos é interessante, mas a resolução apenas evoca rejeição e vergonha alheia. Isso é Black Mirror para você hoje em dia.

Do you agree that Black Mirror's themes have become outdated?

Resultados

Episódio 3 — Hotel Reverie

O episódio mais fraco e estúpido de toda a temporada. O nível de constrangimento cresce exponencialmente aqui e nunca diminui até o final, mas vamos por partes.

No futuro próximo, filmes em preto e branco da era de ouro de Hollywood já não interessam a ninguém. Todos querem blockbusters estrelados por vários Ryans e Chrises (Cringe #1), enquanto a verdadeira arte é ignorada.

Um estúdio que detém os direitos de alguns filmes clássicos em preto e branco está à beira da falência, mas há uma solução. Uma nova tecnologia permite que qualquer ator seja inserido em qualquer papel em um filme. E inserido não é metafórico aqui — o ator está cercado pela realidade virtual do filme onde deve literalmente viver cada cena como seu personagem.

A trama apresenta essa tecnologia como extremamente barata e precisando de promoção (Cringe #2). Aparentemente, os criadores não ouviram falar de headsets de VR. O chefe do estúdio contrata especialistas para refazer seu clássico mais famoso, mas o único ator disposto a interpretar o médico branco é uma atriz negra — embora uma incrivelmente popular (Cringe #4). O truque? No filme, todos ainda a veem como um homem branco, ela deve se referir a si mesma usando pronomes masculinos e realizar todas as interações com a protagonista feminina como se compartilhassem valores tradicionais (cringe sem fim).

É difícil descrever quantas contradições esse conceito levanta. Vamos passar rapidamente pelas principais. Primeiro, as referências a Ryan Gosling e Chris Hemsworth são alfinetadas óbvias na Netflix. Incluir isso é antiético, para dizer o mínimo, especialmente lembrando que Black Mirror só existe graças ao serviço de streaming.

É perfeitamente óbvio que tal tecnologia de inserção não poderia ser impopular. Além disso, a complexidade técnica não permitiria que os criadores desperdiçassem recursos em filmes longos em preto e branco. Mesmo hoje, a tecnologia de headsets de VR é cara, mas capaz de proporcionar experiências incríveis. Imagine poder entrar em um jogo de computador sem nenhum headset ou fios? Apenas alguém completamente desconectado da tecnologia poderia pensar que isso não seria popular. Essas ideias podem ter feito sentido no início da realidade virtual, mas não agora, quando podemos literalmente pedir aos computadores que criem pinturas ou compõem música do zero. A realidade virtual agora faz parte da vida.

O elefante na sala — uma atriz negra interpretando um homem branco. Alguns críticos podem discordar, mas não vimos uma tentativa mais estúpida de inclusividade em idades. Ela está literalmente interpretando um homem enquanto se refere a si mesma como um. Basta escalar um homem — nada mudaria, exceto perder a subtrama da forte amizade feminina. Falando nisso, a outra atriz do filme é revivida usando redes neurais incríveis, permitindo que o personagem na tela se comporte naturalmente e reaja a tudo que o ator real faz.

Eu costumava ser branco

A performance da atriz principal (a negra) é simplesmente atroz. Seu personagem é supostamente bem-sucedido, mas reclama por não conseguir os papéis principais que merece — citação direta. Ao final do episódio, os espectadores entenderão exatamente por que ela não consegue esses papéis. A garota simplesmente não consegue atuar. Dentro do filme, ela leva uma eternidade para entender o que está acontecendo, depois luta para manter o personagem, quebrando constantemente a imersão ao usar gírias modernas em cenários de época. O momento crucial acontece quando ela precisa tocar piano e — surpresa — não consegue. Isso surpreende os criadores de tecnologia que estavam certos de que ela poderia tocar. Aparentemente, se isso fosse Star Wars, eles esperariam que os atores dominassem a Força. E nem pergunte como funcionariam as cenas de dublê...

Episódio 4 — Brinquedo

Outro episódio que demonstra a incapacidade dos roteiristas de acompanhar a tecnologia em rápida evolução. É também uma continuação solta do filme interativo experimental Black Mirror: Bandersnatch. Um jovem jornalista de jogos é convidado para entrevistar o famoso designer de jogos Colin Ritman, que demonstra Thronglets — supostamente um novo jogo de computador, mas na verdade uma fachada para uma IA em constante evolução.

A premissa é simples — observar uma população de criaturas fofas. Eventualmente, elas começam a falar com o jornalista, embora ele só as entenda após um intenso uso de LSD. Anos depois, a polícia prende o agora idoso jornalista por um assassinato não resolvido. Ele imediatamente confessa, mas promete detalhes apenas se o detetive e o psicólogo ouvirem sua história completa.

Por acaso, Charlie Brooker — o showrunner e roteirista principal de Black Mirror — começou sua carreira como jornalista de jogos. Esse contexto é importante. Em 2025, apenas os preguiçosos não compararam videogames a drogas pesadas, mas agora a analogia parece risível em vez de ameaçadora. O mesmo vale para o conceito de Tamagotchi, que é fortemente apresentado aqui. Medos sobre criaturas vivas em dispositivos pequenos parecem ultrapassados — não vemos Tamagotchis reais nas lojas há ages. O mundo avançou para tecnologias muito mais avançadas, fazendo com que isso pareça retrofuturismo em vez de especulação de ponta.

É assim que o autor deste artigo se prepara para escrever novo material

O episódio tenta abordar temas mais profundos, como quão longe nossa cultura está do ideal. Mas esses pensamentos permanecem superficiais, sem profundidade — e a curta duração não ajuda.

O resultado é uma história confusa imaginando o que acontece quando um Tamagotchi vive tempo demais e seu dono não consegue desistir. Entediante.

Episódio 5 — Eulogia

Talvez o melhor episódio da temporada em termos de execução e substância. Um homem solitário recebe notícias inesperadas — um conhecido faleceu. A família pede que ele compartilhe memórias do falecido. Embora ele não consiga nem se lembrar do rosto dela, ele concorda por algum motivo. Usando inteligência artificial, o homem entra em fotografias antigas, gradualmente desvendando um emaranhado de mágoas e erros do passado.

Este episódio se destaca de todos os outros. Aqui, a tecnologia não carrega nenhum significado especial — é apenas uma ferramenta. A essência está nas pessoas, suas vidas e decisões. É provável que seja por isso que o episódio parece tão alienígena em comparação com o resto da temporada. A tragédia central e a reviravolta da trama parecem absolutamente realistas, mas o protagonista nunca teria chegado a essas conclusões sem a IA. Essa é a perfeita sinergia de drama e ficção científica que esperamos de Black Mirror.

Além disso, o papel central (e essencialmente único) é interpretado por Paul Giamatti — um verdadeiro mestre do drama e da profundidade emocional. No final, até mesmo os espectadores mais experientes terão dificuldade em segurar as lágrimas. Tudo aqui funciona perfeitamente.

Não vamos descrever a trama em detalhes — este episódio deve ser visto em primeira mão, sem as opiniões de outros colorindo sua visão. Apenas lembre-se de que Eulogy não está conectado a nenhum outro episódio, então você pode assisti-lo facilmente como uma história independente.

Episódio 6 — USS Callister: Into Infinity

Uma continuação inesperada do primeiro episódio da Temporada 4, USS Callister, que começa quase imediatamente após o final do original. O talentoso programador e criador de jogos inovador Robert Daly havia criado cópias digitais de seus colegas e as transferido para seu jogo. Lá, eles ganharam consciência e livre-arbítrio — apenas para cair sob o controle total de Daly. Depois de derrotar o tirano, a equipe de ex-desenvolvedores de jogos se transforma em corajosos exploradores espaciais e se aventura no mundo aberto para encontrar outros jogadores.

Casa da Mamãe

USS Callister se tornou um dos episódios mais amados do show de todos os tempos. Homenagens inteligentes a Star Trek, uma premissa interessante e visuais vibrantes cimentaram seu lugar na memória dos espectadores. No entanto, a sequência precisava oferecer algo novo. Outra batalha com um programador-geek inseguro teria sido cansativa. Então, os roteiristas substituíram o vilão principal por uma corporação gananciosa que transformou o legal jogo de computador em uma vaca leiteira em busca de doações.

O tema da sequência é outro clichê cansativo familiar a todo gamer. No entanto, ao contrário da maioria dos outros episódios, este final é executado com estilo e imaginação, tornando-o constantemente envolvente de assistir. Visto em sequência com o original, torna-se um filme de ficção científica de longa-metragem decente. Claro, o espaço parece de brinquedo, e há apenas algumas cenas de ação, mas todo o resto é de primeira linha. Os roteiristas conseguiram desenvolver organicamente os temas introduzidos anteriormente e trazê-los a uma conclusão lógica. A reviravolta final acaba sendo novamente um tanto esquizofrênica, mas ei — isso é Black Mirror, isso é esperado.

Veredicto Final

Após assistir a todos os seis episódios, infelizmente não podemos concordar com as opiniões dos colegas sobre o retorno triunfante de Black Mirror. O showrunner e roteirista principal Charlie Brooker encontra cada vez mais dificuldades para atingir aquele nervo exposto que ressoaria poderosamente com a maioria dos espectadores modernos. O tempo e o progresso marcham inexoravelmente para frente, então o que funcionou bem em 2011 não evoca mais emoções fortes em 2025.

Vivemos na era das redes neurais e da substituição generalizada de humanos por máquinas. Temendo uma revolta de robôs, já é tarde demais — isso aconteceu sem ser percebido e sem sangue, em meio a aplausos universais. Centenas de especialistas já são desnecessários no mercado de trabalho, e a situação só vai piorar. Este deveria ter sido o foco da nova temporada ousada de Black Mirror — não Tamagotchis, atrizes negras interpretando homens brancos, ou gênios escolares ressentidos que decifraram o código da realidade. No entanto, a nova temporada não contém nada que se aproxime da relevância — nem em um único episódio.

Dito isso, a série ainda consegue extrair algumas emoções dos espectadores. Os episódios 1, 5 e 6 oferecem um entretenimento decente, mas isso é apenas metade da duração — um resultado pobre para um show desse tipo.

***

Os criadores da sétima temporada de Black Mirror perderam completamente o contato com seu público-alvo. O projeto sempre foi cheio de clichês, mas agora não consiste em mais nada. Para gamers e espectadores antenados em tecnologia, tudo aqui é simplista ao nível de jardim de infância. O espectador médio perceberá que já viu algo semelhante há cerca de cinco anos.

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